Qualquer descrição literária é uma vista
(Roland Barthes (1970)
S/Z, Lisboa: Edições 70, 1980)
O mapa e o Território é uma obra literária de Michel Houellebecq,
sobre o artista Jed Martin:
Jeff Koons
acabava de se levantar do seu lugar, de braços estendidos para a frente num
impulso de entusiasmo. Sentado diante dele num sofá de cabedal branco
parcialmente coberto de panos de seda, um pouco encolhido, Damien Hirst parecia
prestes a soltar uma objecção; tinha um rosto rubicundo, melancólico. Estavam
ambos vestidos de preto – o fato de Koons tinha riscas estreitas -, com camisa
branca e gravata preta. Entre os dois homens, numa mesa baixa, havia um cesto
de frutas cristalizadas a que nem um nem outro prestavam qualquer atenção;
Hirst estava bebendo uma Budweiser Light.
Atrás
deles, um vão envidraçado dava para uma paisagem de prédios altos que compunham
um enredado babilónico de gigantescos polígonos até aos confins do horizonte; a
noite estava luminosa, o ar de uma limpidez absoluta. Dir-se-ia que se estava
no Qatar ou no Dubai; na verdade, a decoração da sala inspirava-se numa
fotografia publicitária do hotel Emirates de Abu Dhabi, retirada de uma publicação de luxo alemã.
A testa de
Jeff Koons estava ligeiramente luzidia; Jed esbateu-a com o esfuminho e recuou
três passos. Decididamente, havia um problema com Koons. No fundo, Hirst era
fácil de apanhar: era possível fazê-lo brutal, cínico, do tipo «cago-me para
vocês do alto da minha grana»; ou podia-se torná-lo artista
revoltado (sem deixar de ser rico), autor
de uma obra angustiada acerca da morte….
(Michel Houellebcq, O Mapa e o
Território, Lisboa, Alfaguara, 2012, p.9)
Seguir as indicações de acordo com a ficha distribuida na aula. Entregar no dia 29 de Outubro, impresso em papel (na
aula ou no cacifo) e por email: goyapintor@gmail.com.
2 de Outubro de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário